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Jacobus van Wilpe, artista plástico holandês,1905-1986. Nasceu em 26 de janeiro de 1905, em Haia, Holanda. Segundo filho do casal Jan Hendrik van Wilpe e Helena Kranendonk van Wilpe, que mantinham um açougue bem movimentado em frente ao quartel da Frederikstraat, em Haia. Com o advento da Primeira Grande guerra, o bloqueio alemão à neutra Holanda derrubou a economia local e tornou as coisas muito difíceis para a família, que em 1920 emigrou para o Brasil, em busca de horizontes mais promissores de trabalho para seus (então) seis filhos. Tinham parentes em Castro, no estado do Paraná, que os incentivaram muito, contando maravilhas de uma terra ainda inexplorada, onde estavam estabelecendo uma colônia. Os van Wilpe foram a 7ª família a se estabelecer na Colônia Carambehy (hoje município de Carambeí). Freqüentando desde criança os museus de Haia, dono de uma vasta cultura geral já aos 15 anos, graças aos estudos ginasiais que fizera na Holanda e a um vivo interesse por quase tudo que dissesse respeito ao ser humano, poliglota (falava alemão com fluência, expressava-se bem em francês e inglês, conhecia rudimentos de latim), com conhecimentos limitados porém sólidos de literatura e poesia (lera toda a Bíblia protestante, conhecia os clássicos); Jacobus já pintava na Holanda. Seu primeiro trabalho foi uma aquarela em um cartão-postal, enviada para um tio doente no hospital, que a remeteu de volta dizendo ser "boa demais para não ficar no acervo do artista". No Brasil, devido às dificuldades que a vida trazia aos pioneiros, o trabalho como lavrador e pecuarista na chácara que os van Wilpe compraram ao chegar era o que o esperava. A inexperiência do pai, aliada à tenra idade dos filhos, fez com que Jacobus desde muito cedo fosse obrigado pelas circunstâncias a buscar emprego, o que o levou a trabalhar em outras terras, em um matadouro de gado, em turmas que abriam estradas de rodagem e ferrovias, até finalmente estabelecer-se em Castro em 1928, como mecânico de carros. Na cidade, voltou a pintar, com óleos importados a duras penas por sua mãe Helena, que para incentivá-lo sem ferir seu orgulho, "trocava" as tintas pelos quadros já prontos. Faria muitos cartazes para circos itinerantes e para o cinema, em troca de ingresso grátis, durante toda a década seguinte. Em 1930 vai à Curitiba, por influência do cunhado Kurt Boiger, artista plástico já estabelecido na capital, para ter aulas com o conhecido pintor e nativista Lange de Morretes. Após quase um mês de aulas, a proposta: Lange iria a São Paulo, tentar a sorte, e gostaria de levar o aluno junto. Jacobus disse não, ficou ainda umas semanas na capital e resolveu voltar a ser mecânico em Castro. São desta época seus primeiros trabalhos com naturezas-mortas, ainda muito influenciadas pelo que vira na Holanda. A década de trabalho duro rendeu frutos, e a década de 40 o encontra abrindo uma serraria, em sociedade com outro cunhado (Oswin Schwarz), trabalho que o possibilitou comprar, em 1948, a Fazenda Pitangui, em Ponta Grossa, a maior cidade da região dos Campos Geares. Nos anos 40, sua pintura toma forma ao deparar-se com a possibilidade de pintar a natureza exuberante da região, nas horas de folga, muitas vezes dentro dos próprios domínios, por onde passava o Rio Pitangui. Crescem os contatos com os pintores curitibanos do círculo de amizades do cunhado Kurt, como Freyesleben, Nísio e Traple. Em 1948 casa-se com Ilse Kindler, curitibana filha de alemães que freqüentava a casa da irmã de Jacobus, Helena Boiger, cujo marido passou alguns anos preso na Ilha Grande, durante a guerra, acusado de nazismo pelo governo Vargas. Construiu a casa grande da fazenda para a noiva, sozinho, enquanto corriam os proclamas. Waldemar Kurt Radovanovic Freyesleben passaria a ser o melhor amigo, indo com Kurt para a fazenda amiúde para pintar e confraternizar. Sua técnica refina-se, fazem apostas entre si para ver quem pintaria melhor o mesmo quadro, e naturezas-mortas e retratos em duplicata ou triplicata, cada um realizado por um dos artistas na mesma ocasião, se sucedem, com a ajuda paciente das modelos (a mãe Helena, as esposas Ilse e Helena, e a pequena Karin Helena que chegara para o casal em 6 de fevereiro de 1950). Karin é a preferida de Freyes, que escreveria cartas carinhosas para a família até sua morte, em 1969. Durante os anos 50, 60 e 70, sua coleção de trabalhos se avoluma, mas nada faz Jacobus tomar a decisão de estabelecer uma carreira artística, apesar da verdadeira "guerra" travada pelos companheiros mais próximos. Trabalha muito, cria gado, sente-se responsável por dar um futuro mais digno à filha, é tomado pela modéstia e pela autocrítica exacerbadas, e poucas vezes somente, expõe em coletivas em Ponta Grossa e Curitiba. Dá muitos quadros de presente para parentes e amigos, presentes de casamento quando a situação era difícil. Nos anos 60, um quadro de Freyes que retrata Jacobus trabalhando na lavoura (jocosamente chamado por ele de "O Batateiro"), é Prêmio de Aquisição do Club Concórdia, em Curitiba, onde está até hoje em exposição no saguão superior. Em 1962, um quadro de Jacobus intitulado "Acácia Mimosa", uma natureza-morta retratando a flor em um vaso, ganha Menção Honrosa no Salão Paranaense. Nos anos 70 e 80, limita-se a expor em coletivas ("quem não quer vender, não pode fazer uma individual. Seria muito egocentrismo, vontade de aparecer"), deixa de pintar em contato com a natureza pois a saúde já não o permite mais, e passa a fazer naturezas-mortas em casa, a fazer cópias de quadros seus que havia dado a parentes, algumas (poucas) cópias de clássicos holandeses para a filha. Sua técnica evolui, desembocando num "micropontilhismo" que beira o neo-impressionismo, detalhista e sóbrio, porém luminoso como os Campos Geraes do Paraná, terra que ele tanto amou. Costumava citar Saint-Hilaire, sábio francês que primeiro andou por ali, que considerava esses campos o lugar mais bonito do mundo. Escreve suas memórias ("Holandeses no Brasil - Uma Consideração Histórica"), publicadas na Holanda em uma edição pessoal do primo (e amigo de toda a vida) Hermen Kranendonk, que as revisou e datilografou pessoalmente como um presente-surpresa que Jacobus nunca chegou a ver. O livro viajava, da Holanda em que ele nunca voltou a pisar, ao Brasil onde a morte o levou em 19 de fevereiro de 1986. (texto: Renato van Wilpe Bach, site oficial de Jacobus van Wilpe, --Renatovwbach 23:16, 22 Apr 2005 (UTC)[1]

O Grupo da Chácara Pitangui

O Grupo da Chácara Pitangui Pintar cada vez melhor. Utilizar a palheta não como instrumento de revolução estética, mas como instrumento de bom gosto. Encarar a tela a ser pintada com o mesmo respeito com que o músico erudito aborda um tema clássico: buscando a si prórpio na interpretação daquelas notas escritas por outrem. Na música clássica, o risco e a aventura estão na transformação do instrumentista, de mero repetidor, em meio através do qual a arte fluirá, não sem sua própria interferência. Disciplina e estudo são imprescindíveis para que, através de uma técnica apurada, o artista torne-se livre para interpretar. A artista plástica Tamie Ohtake disse certa vez, em uma entrevista à TV, palavras que poderiam ter saído da boca de Jacobus van Wilpe: eram para ele como um leit-motiv: o pintor, para ser moderno, não pode abrir mão do aprendizado das bases técnicas da pintura (desenho, composição, harmonia, uso de tintas e pigmento, etc) e de suas linguagens. Só com o pleno domínio destas será possível criar o novo e o pessoal. Como Picasso, que primeiro dominou todas as técnicas, para só depois subvertê-las. Para Jacobus e seu grupo de amigos-mestres (Traple, Boiger, Freyesleben), a pintura seria obviamente figurativa, e não lhes passava na cabeça poder ser diferente. Eram músicos de concerto. Sua partitura era a realidade que os cercava – expressa nos expressivos rostos brasileiros e imigrantes do retratos de Boiger, Traple e Freyesleben, nas naturezas-mortas e paisagens de Jacobus, Boiger e Freyes, com seus pinheiros e campos singulares, as flores típicas da região, o interior das casas. Como desprezar o figuratico onde a beleza natural abunda, selvagem, inexplorada? O caso da Acácia Mimosa é exemplar. Freys chegou de visita à Chácara Pitangui e encontrou Koe envolvido com a arrumação de uma mesinha que seria o ‘modelo’ para uma natureza-morta. No vaso, um ramo de acácias, as minúsculas e muito perfumadas florezinhas, que, uma vez colhidas, duram poucas horas no vaso sem perder o viço. Freyes duvidou que Jacobus pudesse pintá-las, e ficou para acompanhar a empreitada. É preciso explicar que Koe era o mais lento do grupo. Seu processo de criação diferenciava-se dos demais, que impetuosamente davam um trabalho por terminado em poucas horas. Koe levava dias. Fazia um esboço a lápis sobre a tela, que o daria precisão milimétrica em tremos de perspectiva e precisão, mas o deuixava com um inexplicável sentimento de inferioridade: “Não é assim que se deve fazer, deve-se pintar direto sobre a tela, mas é assim que eu sei fazer...” Depois aplicava um fundo (seus belíssimos céus, por exemplo, ganham por isso a alma alaranjada dos céus paranaenses), e só então cobria, pacientemente, cada objeto retratado com pinceladas pequenas, pontos de tinta a óleo meticulosamente preparados e misturados para obter o efeito desejado. Quando saíam a campo para pintar – e adoravam fazer isso nos recantos onde nascia o Rio Pitangui, dentro da propriedade – Koe traria um esboço do quadro, um início que completari de memória ao longo de dias ou semanas, voltando ao local às vezes. Os outros trariam quase sempre um quadro pronto. Com a Acácia não foi diferente. Sua esposa Ilse ajudava, trazendo novos ramos todos os dias, colocando-os no vaso, preparando um chá ou um café para alimentar a jornada. Freyes exasperava-se. Não entendia como Jacobus consguia pintar com tanta firmeza depois de um dia inteiro de trabalho braçal (acordar às 4, tirar o leite, cuidar do gado, realizar pequenos consertos, etc). Sentavam-se ali mais ou emnos às 3 da tarde e Freys pedia pinceladas mais fortes, mais decididas. Mas Koe não tinha pressa. As dificuldades foram muitas. Os buqûes murchavam, e quando trocados, eram completamente diferentes do anterior. Às vezes Koe pedia a ilse para troá-los de novo e de novo, num mesmo dia. Por fim, já pintava as acácias de sua mente, guardadas no mosaico de sua memória prodigiosa. O resto é história. O quadro rendeu seu único prêmio em vida – Menção Honrosa no Salão Paranaense de 1962 – e a admiração eterna do amigo Freyesleben. Que também viria a pintá-las algumas vezes, procurando a perfeição que, confessava, só Koe havia atingido. Uma de suas Acácias está, como a de Jacobus, no acervo da Família van Wilpe em Ponta Grossa. Esta busca de uma representação do real não os impedia de cruzar as barreiras do academicismo. Cada um dos curitibanos – Traple, Freyesleben e Boiger – pendiam ora para pinceladas rápidas, toscas, de uma pintura “semi-automática”, ora para um requinte de delicadezas e detalhes que os aproximava dos mestres holandeses (influências maiores nos retratos e naturezas-mortas do grupo) e dos impressionistas (influências maiores nas paisagens de Jacobus e Freyesleben). Não ficaram alheios à aventura do Século XX. A distância dos grandes centros tornou-os um tanto avessos ao Modernismo, mas não impediu uma aproximação estética com o trabalho de contemporâneos seus como os pintores do Grupo Santa Helena, ou Ismael Nery, que mesmo radicados em São Paulo, fizeram um trabalho bastante diverso dos modernistas, influenciados também pela idéia impressionista de ir ao campo pintar in loco. As diferenças políticas, suas diferentes histórias de vida (nas quais o único ponto em comum talvez tenha sido a imigração ao Brasil), suas divergências filosóficas quanto ao papel da Arte e do Artista, não impediram aos quatro (Traple, Boiger, Freyes e Koe) travarem um diálogo de décadas, que refinaria suas técnicas através da troca de experiências, influenciá-los-ia mutuamente e os tornaria melhores pintores. Num século em que a latrina de Duchamps transformou qualquer coisa em “Arte”, bastando para isso que dela se diga que o é, em que a estrada da desconstrução das imagens, dos objetos, dos sons, e das palavras nos leva a um beco sem saída tão irracional quanto incensado pelos chamados “críticos de arte”, talvez o grupo da Chácara Pitangui possa sere visto como ingênuo ou ultrapassado. Talvez os herdeiros de Kurt Boiger, Estanislau Traple e Curt Freyesleben – artistas consagrados em Curitiba, em seu tempo – possam achar ousado da parte de um herdeiro do (quase) desconhecido Jacobus van Wilpe englobé-los sob uma alcunha que remete à pequena gleba de terra de meu avô. Mas creio sinceramente, porque cresci ouvindo suas histórias, que foi ali que estes senhores viveram alguns dos seus momentos mais felizes, e alcançaram a maturidade filosófica que os permitiu expressar plenamente suas personalidades como artistas. [2] [3] [4] [5] [6] [[7]]

Waldemar Curt Radovanovic Freyesleben

Waldemar Curt Radovanovic Freyesleben Waldemar Curt Radovanovic Freyesleben foi um dos maiores pintores “brasileiros” do Século XX. Aluno de Alfredo Andersen (o “Pai” da Pintura Paranaense), contemporâneo/amigo de Traple, Nísio, Lange de Morretes, Kurt Boiger, De Bona e Poty. Brilhante no terreno das idéias, erudito sem ser arrogante, dotado de um enorme talento para a pintura, que não deixou de sempre desenvolver-se em direção à inalcançável perfeição. Dono de uma verve que não poucas vezes o deixou em maus lençóis, sincero, teimoso, obstinado, divertido, excitando sempre aos outros com sua fé na Vida e na Arte. Viveu ambas, Vida e Arte, com maiúsculas, deixando nos que o conheceram marcas indeléveis. Jacobus van Wilpe foi um dos maiores amigos, quiçá o maior. Um estrangeiro que, como ele, amara e adotara aquele rincão do Sul do Brasil como seu; devotado à Pintura apenas pelo prazer e pelo amor à Arte, erudito que combinava as (boas) qualidades de camponês, a simplicidade da gente da terra que Freyes (como era chamado pelo amigo Jacobus) não encontrava entre os “profissionais das artes”. A chácara em Ponta Grossa, verdadeira fazenda de 100 alqueires de terra, que na época ainda contava com extensas áreas de mato virgem (os “capões de mato”), entremeadas de riozinhos preguiçosos e gelados, tornar-se-ia o refúgio não só do Freyes, mas também de outros amigos curitibanos: pintores como Kurt Boiger e Estanislau Traple, médicos como o Dr. Dante Romanó, empresários como Leopold Kellerman, que iam freqüentemente para lá pescar, nadar, divertir-se, filosofar e pintar a Natureza in loco. Os quadros pintados na chácara foram muitos; a amizade, durou décadas; as influências, recíprocas; e o grupo, centralizado no quarteto Boiger-Jacobus-Traple-Freyes, que caminhou junto tanto tempo, marcou a Pintura Paranaense da época com um trabalho vibrante. Ano passado comemoraram-se os 100 anos de Kurt Freyesleben com uma exposição em Curitiba. Esperamos que seja o início do resgate de uma época de ouro da Pintura Paranaense. Museu Alfredo Andersen [8] Freyesleben [9]

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